A mais recente pesquisa Datafolha, divulgada em 9 de outubro de 2024, mostra um cenário de extrema disputa na disputa pela prefeitura de São Paulo: Guilherme Boulos (PSOL) lidera com 26% dos interesses de voto, enquanto Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB) está empatado com 24%. Esse tipo de cenário, com tamanha disputa acirrada, só foi visto há 24 anos, na eleição municipal de 2000.
Naquela ocasião, Marta Suplicy (PT) estava à frente da corrida eleitoral, enquanto Paulo Maluf (PPB) e Geraldo Alckmin (PSDB) travavam uma batalha voto a voto pela segunda vaga no segundo turno. A diferença que Alckmin fez na disputa foi mínima: apenas 7.691 votos separaram o tucano do segundo turno. Marta e Maluf seguiram para a segunda etapa, e a petista acabou se tornando a primeira eleita prefeita da cidade de São Paulo.
Mas as diferenças entre aquele momento e o que vemos agora são gritantes. Em 2000, o processo eleitoral era puramente tradicional. O principal meio de comunicação entre candidatos e candidatos eram os programas de televisão, os debates e as propagandas de rádio. Os eventos de comédia, muitos deles acompanhados por shows e artistas, eram uma das formas mais eficazes de mobilizar e envolver o eleitorado, já que a internet ainda era algo incipiente e sem qualquer relevância nas estratégias de campanha.
Hoje, em 2024, estamos diante de uma realidade completamente diferente. A internet mudou radicalmente a forma como os candidatos se posicionam e como as campanhas são induzidas. A projeção de um outsider como Pablo Marçal, por exemplo, seria inimaginável naquela época. Na eleição atual, Marçal se utiliza de uma presença poderosa nas redes sociais e no mundo digital para alcançar um eleitorado amplo, o que contrasta fortemente com a estratégia de campanha que Maluf e Alckmin tiveram que adotaram em 2000, quando a visibilidade dependia majoritariamente da televisão , da rádio e das movimentações nas ruas.
Além disso, o cenário político hoje é marcado por uma polarização muito mais intensa, potencializada pela internet e pelas redes sociais. As discussões se tornaram mais agressivas, e a segmentação do eleitorado nunca foi tão visível. Em 2000, embora houvesse uma disputa acirrada, o ambiente ainda era composto por campanhas mais tradicionais, nas quais a agressividade e a polarização eram contidas pelos meios de comunicação tradicionais.
Neste contexto, o desfecho da eleição atual pode ser muito diferente. Boulos parece estar garantido no segundo turno, beneficiando-se do apoio da esquerda, enquanto a disputa entre Nunes e Marçal permanece em aberto. Diferentemente do ano 2000, quando a definição ficou restrita aos votos contados manualmente e campanhas locais, agora o embate se dá no ambiente virtual, onde algoritmos, big data e mídias sociais ditam os rumores das candidaturas.
O que permanece, porém, é uma imprevisibilidade. Assim como a cidade de São Paulo surpreendeu em 2000, quando uma diferença de menos de 8 mil votos determinou o destino da eleição, 2024 promete manter eleitos e candidatos em suspense até o último momento. A dinâmica das campanhas evoluiu, mas o fator surpresa nas eleições paulistanas continua mais vivo do que nunca.