O impacto negativo dos desertos de notícia na Saúde Pública do Brasil

(DisclaimerO texto abaixo exime e reconhece a excelência pioneira de um dos melhores sistemas públicos de saúde do mundo, o SUS. Entende, no entanto, que há muito ainda a percorrer na abrangência da cobertura de saúde de populações carentes e entende também que a estrutura representada pelos meios editoriais de comunicação, informação e notícia, e o combate aos desertos de notícia, são vitais nesse cenário.)

Um dos mais graves e sistêmicos problemas sociais do Brasil é sua extremamente falha, ineficiente e carente saúde pública. Todos sabemos. Há séculos.

É tanto um renitente problema nos grandes centros urbanos, quanto nos diversificados e multiplicados interiores do País, assim como também, e principalmente, nos mais entranhados rincões brasileiros, distantes das zonas onde ainda há, pelo menos, um mínimo de atendimento.

Os desertos de notícia têm um impacto amplificador negativo profundo nisso tudo, afetando a disseminação de informações essenciais, a resposta a emergências, a transparência na gestão de saúde e o bem-estar mental das comunidades.

Impactos específicos

1.Informação deficiente sobre Saúde Pública

  • Vacinação: A falta de cobertura jornalística local pode levar à desinformação sobre campanhas de vacinação, resultando em baixas taxas de imunização e aumento de surtos de doenças evitáveis como sarampo e dengue.
  • Prevenção de doenças: Programas de prevenção e controle de doenças, como campanhas contra a dengue, Zika e chikungunya, podem não alcançar toda a população, aumentando a incidência dessas doenças.

2. Resposta ineficaz à emergência de Saúde

  • Desastres Naturais e Epidemias: Em áreas afetadas por desastres naturais como enchentes ou epidemias de doenças transmissíveis, a falta de informação local pode dificultar a coordenação de respostas rápidas e eficazes, resultando em maiores taxas de mortalidade e morbidade.
  • Comunicação fragmentada: A dificuldade em disseminar informações essenciais pode levar a uma resposta descoordenada das autoridades de saúde, exacerbando crises de saúde pública.

3. Fiscalização e responsabilização insuficientes

  • Transparência na gestão de saúde: Sem uma imprensa local ativa, práticas corruptas ou ineficientes na administração dos recursos de saúde podem passar despercebidas, levando à piora dos serviços de saúde.
  • Uso ineficiente de recursos: A falta de fiscalização pode resultar em desperdício de recursos públicos destinados à saúde, afetando negativamente a qualidade dos serviços e programas de saúde.

4. Redução do engajamento e da participação comunitária

  • Desconexão dos cidadãos: A falta de notícias locais pode levar a uma desconexão entre os cidadãos e as questões de saúde pública, resultando em menor participação em programas comunitários de saúde e menor consciência sobre questões de saúde locais.
  • Falta de mobilização: A dificuldade em mobilizar a comunidade para ações coletivas de saúde, como mutirões de limpeza para combate ao Aedes aegypti, pode resultar em aumento de casos de dengue, Zika e chikungunya.

5. Aumento da desinformação e dos boatos

  • Proliferação de boatos: Em áreas sem cobertura jornalística local, boatos e desinformação podem se espalhar rapidamente, levando a comportamentos prejudiciais à saúde, como evitar vacinas ou seguir práticas médicas inseguras.
  • Influência de fontes não confiáveis: A população pode depender de fontes de informação não confiáveis, aumentando o risco de seguir orientações médicas incorretas.

6. Impacto na saúde mental

  • Isolamento e ansiedade: A falta de informação confiável pode aumentar a sensação de isolamento e ansiedade entre os moradores, especialmente durante crises de saúde pública. A incerteza sobre a disponibilidade de recursos e a segurança pode exacerbar problemas de saúde mental.
  • Falta de suporte psicológico: Iniciativas de suporte psicológico e programas de saúde mental podem não ser bem divulgados, resultando em menor acesso a esses recursos vitais.

Exemplos de casos reais

1. Regiões Amazônicas e Interioranas:

  • Em áreas remotas da Amazônia e do interior do Brasil, onde a cobertura jornalística é limitada, comunidades frequentemente enfrentam surtos de doenças como malária e leishmaniose sem acesso a informações adequadas sobre prevenção e tratamento.

2. Favelas Urbanas:

  • Nas grandes cidades, comunidades em favelas muitas vezes são desprovidas de cobertura jornalística local. Isso pode levar a uma falta de informação sobre serviços de saúde disponíveis, campanhas de vacinação e prevenção de doenças, exacerbando problemas de saúde pública nessas áreas.

Iniciativas e soluções potenciais

  • Jornalismo comunitário: Incentivar o jornalismo comunitário e sem fins lucrativos, financiado por doações e subscrições, para garantir que informações vitais alcancem todas as regiões.
  • Parcerias com universidades: Estabelecer programas de jornalismo em universidades locais para cobrir notícias em áreas desatendidas, fornecendo treinamento prático para estudantes e informações críticas para a comunidade.
  • Uso de plataformas digitais: Utilizar redes sociais e plataformas digitais para disseminar informações de saúde pública, alcançando comunidades que não têm acesso a meios de comunicação tradicionais.
  • Apoio governamental e ONGs: Apoiar iniciativas governamentais e de organizações não-governamentais que visam aumentar a cobertura de notícias em áreas desatendidas, especialmente focando em saúde pública.

Não é simples, é desafiador, mas é possível

Os desertos de notícia representam um desafio significativo para a saúde pública no Brasil. Há muito tempo.

Abordar objetiva e eficientemente a questão, só com seriedade. Algo que, como já diria Charles De Gaulle (“Ce n’est pas un pays sérieux”), sobre o Brasil, num País que está longe de ser sério, se transforma num objetivo desanimador.

Só que, apesar desses obstáculos, é totalmente possível. As soluções estão aí acima. Conhecidas. É fazer.

Nada na sociedade se resolve isoladamente. Só com esforços colaborativos para melhorar a disseminação de informações, fortalecer a fiscalização e aumentar o engajamento comunitário. 

Só uma abordagem integrada mitigará os efeitos negativos dos desertos de notícia e melhorará a saúde e o bem-estar das populações carentes afetadas.

De novo… é fazer.

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