Álcool e endometriose: bebidas alcoólicas podem piorar os sintomas da doença?

Para mulheres com endometriose, as bebidas alcoólicas podem significar um risco e um agravante dos sintomas da doença — uma condição crônica, em que tecidos semelhantes ao do revestimento uterino crescem fora dele, causando dor e outros desconfortos. São vários fatores interligados, que envolvem aspectos imunológicos, hormonais e inflamatórios, tornando complexa a relação entre o consumo de álcool e a patologia.

“O álcool pode aumentar os níveis de marcadores inflamatórios no corpo, a exemplo da proteína C-reativa (PCR) e das citocinas pró-inflamatórias. Essa inflamação aumentada piora os sintomas, como dor pélvica, cólicas menstruais intensas e dor durante a relação sexual. Além disso, pode levar a uma progressão mais rápida da doença, aumentando o risco de complicações adicionais”, destaca o Dr. Patrick Bellelis, especialista em endometriose e colaborador do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

A endometriose está associada a uma disfunção imunológica, em que o corpo não consegue controlar adequadamente o tecido endometrial que cresce fora do útero. O consumo de álcool pode ser um dos responsáveis por suprimir essa função, dificultando a capacidade do sistema de frear o crescimento anômalo desse tecido, o que pode resultar em sintomas mais severos e maior risco de infecções.

Outra questão importante é o impacto da bebida alcoólica no funcionamento do fígado, responsável por metabolizar o estrogênio nas mulheres. O crescimento do tecido endometrial é influenciado diretamente por esse hormônio, então, qualquer desequilíbrio em seus níveis pode desempenhar um papel significativo na progressão da doença e dos sintomas. Além disso, hormônios desregulados interferem no ciclo menstrual, causando irregularidades que podem complicar ainda mais a condição.

Há também efeitos no bem-estar geral e na qualidade de vida. Pessoas com endometriose frequentemente lidam com dor crônica e outros sintomas debilitantes que podem impactar a saúde mental. O uso de álcool como um mecanismo de enfrentamento pode piorar esses problemas, levando a uma espiral negativa de saúde e interferindo no sono, que contribui para a recuperação e gestão da dor.

Por fim, o álcool ainda pode interferir na eficácia dos medicamentos prescritos para controlar a dor e os sintomas da endometriose, e aumentar o risco de efeitos colaterais. “Essa interação pode dificultar o manejo da condição. Ao comprometer a ação dos medicamentos, o álcool impede que eles desempenhem seu papel adequado no alívio dos sintomas, e potencialmente acentua efeitos adversos, prejudicando o tratamento e a qualidade de vida dos pacientes”, conclui Dr. Patrick Bellelis.

Para a melhoria consistente dos sintomas, é recomendável que se adote um estilo de vida saudável — incluindo a redução ou a eliminação do consumo de álcool —, uma dieta balanceada, a prática regular de exercícios físicos e o gerenciamento do estresse.

Clínica Bellelis – Ginecologia

O ginecologista Patrick Bellelis é Doutor em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (USP); graduado em medicina pela Faculdade de Medicina do ABC; especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Laparoscopia e Histeroscopia pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo); além de ser especialista em Endoscopia Ginecológica e Endometriose pelo Hospital das Clínicas da USP. Possui ampla experiência na área de Cirurgia Ginecológica Minimamente Invasiva, atuando principalmente nos seguintes temas: endometriose, mioma, patologias intrauterinas e infertilidade. Fez parte da diretoria da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE) de 2007 a 2022, além de ter integrado a Comissão Especializada de Endometriose da FEBRASGO até 2021. Em 2010, tornou-se médico assistente do setor de Endometriose do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital das Clínicas da USP; em 2011, tornou-se professor do curso de especialização em Cirurgia Ginecológica Minimamente Invasiva — pós-graduação lato sensu, do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês; e, desde 2012, é professor do Instituto de Treinamento em Técnicas Minimamente Invasivas e Cirurgia

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